segunda-feira, 14 de março de 2011

A Falsa Polêmica Sobre o Apartidarismo no Movimento Estudantil.

                                                                     * Marcelo M. Trevisan.
        Ao longo dos anos o Movimento Estudantil foi capaz de produzir quadros políticos
de extrema competência tanto para a direita como para a esquerda (José Serra e Vladimir
Palmeira, por exemplo). Se fizermos uma análise histórica do movimento estudantil
organizado, percebemos que ele foi gerado por interesses políticos, mesmo em 1937,
durante o período de ditadura de Getúlio Vargas. Sabemos que nessa época, o nacionalismo
exarcebado e falta de democracia eram marcas registradas, e o partido, PTB, se infiltrava
em todas as organizações. Foi nessa época também, que foi regularizada a situação dos
sindicatos. No movimento estudantil não foi diferente.
        Quando a UNE foi fundada, e ao movimento estudantil foi dado um caráter de
organização a nível nacional, não só a entidade, mas os próprios militantes do ME
possuíam participação ativa em partidos políticos.
        Neste período, os estudantes militantes do Partido Comunista (pois, a qualquer
pessoa é dado o direito de militar em um partido político e ser militante orgânico do
Movimento Estudantil), entenderam a importância de trazer para as fileiras das lutas
populares, um movimento novo, baseado na rebeldia da juventude e na irreverência
estudantil.
        Dentro deste contexto, se travou uma importante luta em 1950, a direita instituída,
defensora dos privilégios da classe dominante, contra uma esquerda contestadora e
embalada por grandes vitórias dos trabalhadores (como a Revolução Chinesa de 1949).
Nesta disputa, a direita venceu e tomou a direção do movimento estudantil e de sua
entidade, a UNE. O Movimento Estudantil acabava de cair nas mãos da UDN (União
Democrática Nacional), partido conservador que viria mais tarde a dar origem a ARENA, o
partido da Ditadura.
        Mais uma vez, estudantes militantes do Partido Comunista (PC), da Juventude
Universitária Católica (JUC), e da Juventude Estudantil Comunista (JEC), se mobilizaram
para acabar com seis anos de conservadorismo e em 1956 ocorre a vitória da esquerda
progressista na UNE, e o retorno do movimento estudantil às lutas. Deste momento em
diante, a Direita nunca mais teve espaço no centro político do movimento estudantil
ou em suas entidades, a não ser em locais focalizados. A primeira campanha chamada
pela nova direção foi a “União Operária e Estudantil contra a Carestia” que era a luta pela
redução das tarifas de transporte. Como podemos ver, a participação de militantes
ligados a partidos políticos, sempre foi uma resposta natural às demandas do próprio
movimento estudantil.
        De 1956 até hoje, o Movimento Estudantil passou por muitas lutas, muitos
desgastes. Foi o movimento estudantil, que entrou de cabeça na luta pela Reforma
Universitária (em 1960 na Bahia), com bandeiras como Democratização do Ensino,
Universidade Voltada Para a Sociedade. Foi este movimento que teve na Ditadura muitos
de seus lideres mortos, presos e torturados, por defenderem a liberdade, a democracia e
seus partidos políticos.
        A luta do Movimento Estudantil vai além de um debate sobre o que é melhor
para o nosso curso ou nossa formação profissional. Ele é responsável por nos tornar
seres politicamente ativos, e quando nos tornamos politicamente ativos fazemos nossa
opção. Esta opção pode ser Conservadora ou Progressista, pode ser de Esquerda ou de
Direita, e é neste momento que nos encaixamos neste ou naquele programa partidário.
        Desde que perdeu o controle do Movimento Estudantil, a Direita não consegue se
organizar para fazer a disputa. Tentou acabar com congressos, dividir o movimento, criar
entidades paralelas. Mas nem um de seus discursos foi tão bem assimilado como a idéia do
APARTIDARISMO. Inclusive entre companheiros esta idéia tem tido sentimentos de
simpatia.
        Devemos esclarecer que este debate é extremamente sério e difícil. Se nos fizermos
uma pergunta simples e objetiva, qual seria nossa resposta.           O Apartidarismo no
movimento estudantil beneficia a quem? Será que isto não merece uma reflexão? Será que
isto não é a apelação dos despolitizados, dos ingênuos ou dos oportunistas?
        Sabemos que a falta de formação política de nossa militância, a falta de debates, de
uma construção ideológica firme baseada em fundamentação teórica, causa certos desvios e
dúvidas. Desvios porque achamos que nossas entidades devem ser preservadas da presença
“danosa dos partidos” e dúvidas porque colocamos em cheque nossa própria participação
quanto militantes de partidos. Se nos perguntarmos, quantos de nós militamos
organicamente em algum partido político, teremos uma surpresa, pois muito de nossos
militantes formulam conceitos sobre os partidos, suas formas de atuação, sua política, sua
atuação nos movimentos sociais sem nunca se quer ter participado de atividades partidárias.
O que não lhe dá o conhecimento de causa e conseqüentemente limita seu poder de debate.
        O termo APARTIDARISMO pode nos jogar em caminhos irreversíveis: O primeiro
é reproduzir o discurso oportunista da DIREITA, que sem condições de disputar o
Movimento Estudantil com um discurso real e uma prática coerente, lança-se à
desmoralização dos militantes desse movimento, julgando ser eles e seus partidos o grande
mal pela desarticulação e imobilismo pelo qual vem passando nossas entidades e o próprio
movimento. O oportunismo de DIREITA vale-se da falta de formação, conhecimento e
firmeza ideológica de militantes novos ou descontentes para jogar, e assim tumultuar,
confundir e fragmentar a base real do Movimento Estudantil.
         O outro caminho é o do oportunismo de ESQUERDA. Este infelizmente existe e
pode ser encontrado em vários espaços de discussões do Movimento Estudantil. A covardia
de companheiros em assumir seu papel contestador e suas ligações partidárias os coloca na
condição de negação da participação dos militantes organicamente ligados a partidos dentro
do movimento. Os oportunistas de Esquerda possuem atuação partidária, mas por
incapacidade teórica e organizativa se tornam militantes periféricos no partido. Estas
pessoas vêem no movimento estudantil o espaço de se tornarem o centro político, e o seu
primeiro passo é negar a existência e importância da Militância Estudantil – Partidária, pois
será justamente esta militância que se não for anulada os colocará de novo na periferia do
debate.
        Outro caminho é tão quanto medíocre. Nos joga no esquerdismo AUTONOMISTA
(anarquista), que por aversão a qualquer tipo de organização, joga seu rancor esquerdista
contra os militantes estudantis partidários, debitando a estes todos os problemas de ordem
estrutural e organizativa, não se dando conta que organização, proposição, elaboração são
preceitos básicos para a democracia. Preferem lançar o Movimento Estudantil na rota do
aventureirismo irresponsável e colhem mais tarde os frutos de sua própria desorganização,
não deixando acumulo nenhum para que sirva de suporte para as próximas gerações de
militantes.
         E por fim temos os ingênuos. Estes têm a características de não conhecer a fundo o
movimento estudantil, os partidos, as disputas, as pautas, e acabam reproduzindo o discurso
que houvem. São os mais influenciados neste processo. Possuem boa vontade e disposição
para militar, mas a falta de experiência e de conteúdo teórico os colocam em uma condição
difícil. Muitas vezes criam o preconceito e passam todo seu período de militância sem
conseguir evoluir, e se tornam os maiores críticos da participação da militância partidária
no movimento estudantil. Outros, pelo contrário, conseguem enxergar a importância de
uma militância mais qualificada e acabam, além de militar no Movimento Estudantil, ter
uma militância destacada também no partido político.
         Há outro debate importante que devemos considerar quando se fala em Movimento
Estudantil e Partidos Políticos, que é a questão do aparelhamento das entidades. Isso causa
uma tremenda confusão nos militantes novos e até mesmo aos mais antigos. Existem
companheiros que por mais que participem não conseguem evoluir e entender a diferença
entre a participação de militantes ligados aos partidos políticos, seus debates internos e a
concepção aparelhista de movimento. Diga-se de passagem, a direita toda vez que esteve à
frente de entidades aparelhou, usou, tirou proveito para sua própria construção.
         Uma das características das entidades quando aparelhadas são a falta de espaços
democráticos de decisão. Plenárias, congressos, assembléias, reuniões gerais são abolidas
em detrimento de conchavos, acordos, reuniões a portas fechadas. Isso sempre sem a
participação dos estudantes e sem o devido repasse para o coletivo. O poder de informação
fica concentrado/ centralizado nas mãos de poucas pessoas que se recusam de forma
veemente em repassá-las.
          Outra demonstração clara de aparelhamento é quando as finanças da entidade são
tratadas como um grande mistério. Ninguém sabe e ninguém vê os recursos, e as prestações
de contas que deveriam ser constantes tornam-se umas incógnitas, que nem com pressão
são mostradas as claras.
         E a esquerda, será que não faz a mesma coisa?
         É aí que se mostra a diferença, pois mesmo nos partidos de esquerda temos
diferentes interpretações para este debate. A UJS (União da Juventude Socialista / PC do
B), particularmente, possui uma política de manutenção das entidades a qualquer custo,
pois dela depende a existência do próprio partido. Para que ocorra esta manutenção,
palavras como ética e coerência desaparecerem do dicionário e outras palavras como
acordos e conchavos fazem parte da prática política dos companheiros e das entidades que
eles dirigem.
        É por isso que temos que acabar com certos preconceitos e esclarecer certos mitos.
Temos que ter claro cada conceito referente à política estudantil – partidária, para podermos
aplicá-los de forma coerente, séria e organizada, fortalecendo assim o próprio Movimento
Estudantil.
        A principal função da participação dos partidos políticos e seus militantes no
Movimento Estudantil são a capacidade de propor, de formular, de elaborar de forma a
qualificar sempre mais os debates. Historicamente, podemos notar a participação dos
partidos nos mais diferentes movimentos. Temos que entender isso como um passo
importante no amadurecimento do movimento, de seus militantes e suas entidades. Não se
concebe movimento estudantil desconectado da realidade política, e falar em política sem
falar dos partidos é o principal marco da incompreensão. Lembremos do poema de Bertold
Brecht, O Analfabeto Político, ele nos remeterá a realidade de vários companheiros.
*Acadêmico do Curso de Agronomia da UFSM.
Ex-Diretor da UNE e Ex-Coordenação Nacional da FEAB

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